Por Luiz Felipe Vilela
Gostamos de comparações.
Quando investimos em um produto financeiro sempre temos em mente uma comparação. Podem ser feitas comparações com índices, outros produtos, outras carteiras, etc. Uma análise pode ter várias comparações e devem (!) ir além de uma análise de rentabilidade. Quantos por cento um produto rendeu a mais que outro é importante? Sim, é importante. Saber quando o produto rendeu mais (ou menos) que seu índice de referencia é importante? Também é importante. Mas também é imprescindível uma análise de risco. Uma forma de analisar é através de uma volatilidade. Se um produto valoriza (ou desvaloriza) mais que o outro no mesmo período, pode significar que o produto é mais arriscado no relativo.
Por exemplo, podemos fazer comparações de ações com o índice Ibovespa, comparação com setores de atuação da empresa e outros. Vale comparação com taxas de juros, CDI, com inflação, com dólar, com bitcoin, com o que quiser. A mesma coisa vale para fundos de investimentos. Temos índices que representam uma cesta de fundos, como o índice IHFA, que é uma cesta de fundos multimercado. Basicamente, quando não há índices, podemos fazer comparações como similaridade, como por exemplo fundos ou ativos do mesmo segmento ou com a mesma estratégia.
Mas depois de analisar a rentabilidade e a volatilidade, o que mais podemos comparar? É aí que entra o beta.
O beta.
O beta é uma medida de sensibilidade a volatilidade de uma carteira relacionada ao seu índice. É também uma medida de representação de risco sistêmico. Então significa a intensidade de quanto o produto financeiro se movimenta em relação ao índice. Este número fica próximo de 1 na maioria dos produtos financeiros.
Devemos ter em mente que ao compararmos um produto com o um índice, estamos falando de uma comparação a um valor que representa o risco sistêmico (não-diversificável). Por exemplo: o Ibovespa representa dezenas de ações, então quando usamos o Ibovespa como comparação, estamos assumindo que o que acontece no índice também acontece com a maioria dos ativos do mercado. E não importa a quantidade de ações do portfólio, há sempre uma parcela de risco não-diversificável envolvido.
Colocando em números:
- Beta próximo de 1: carteira ou ativo com risco sistêmico semelhante ao do índice;
- Beta próximo de 0: carteira ou ativo com risco sistêmico nulo em relação ao do índice;
- Beta próximo de -1: carteira ou ativo com risco sistêmico inverso ao do índice;
- Beta próximo de 2: carteira ou ativo com o dobro do risco sistêmico ao do índice.
Por exemplo. Se um produto financeiro tem o beta igual a 2 em relação ao seu índice. É esperado que caso o índice suba 5%, o produto financeiro suba 10%. O mesmo vale para o desvalorizações. Com isso sabemos que o produto financeiro em questão tem o dobro do risco em relação ao seu índice de referência.
Outro exemplo é em caso de um beta igual -1. Se o índice sobe 10% é esperado que o produto financeiro em questão caia 10%. É esperada uma relação inversa em relação ao índice.
Como aplicar?
O beta deve ser aplicado para saber o quanto a carteira deverá ser agressiva, defensiva ou descorrelacionada. Beta longe de 1 significam posições mais agressivas, e beta próximo de 0 significa uma posição mais defensiva. Entretanto, não devemos confundir os conceitos. Um beta igual a 1 quando o índice de comparação é o Ibovespa, devemos considerar que o risco do mercado de ações já está contabilizado, o que está acima do beta igual a 1, significa um risco adicionado ao risco sistêmico já existente.
Muito se fala de descorrelação e o beta é uma ferramenta que pode ser usada para isso. Por exemplo, ações tem relação inversa com o dólar na maior parte do tempo. Portanto, beta entre esses dois índices é negativo. Assim, espera-se que o comportamento do dois sejam invertidos na maior parte do tempo.
Deve-se observar que as análises do beta são baseadas em dados históricos e sempre é necessário ter o cuidado de usar o passado para algo no futuro. Da mesma forma que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura, beta passado não é garantia de beta futuro. Essa é uma região de incerteza que todos investidores no mundo estão envolvidos.
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