Teve um percurso académico pouco convencional, como diz, mas foi esse hibridismo que a levou a participar num projeto de realidade virtual representado em Cannes e a estar agora no projeto Manicómio, dedicado a artistas com doenças mentais.
Tiraste uma licenciatura em Turismo, na cidade de Leiria, mas rapidamente saíste da bolha para a Dinamarca e a Holanda no âmbito de um mestrado Erasmus Mundus em Jornalismo, Media e Globalização. Tinhas 26 anos. Isso marcou o teu futuro?
Sim. Mudou-me como pessoa: conheci outras culturas e tive de cuidar da minha independência num país estrangeiro. Fiz o primeiro ano na Dinamarca e o segundo na Holanda, onde me especializei em Media e Política e, portanto, entrei numa rede de alumni com jornalistas e pessoas que trabalham nos setores das ONGs e com uma mente igual à minha. A Holanda tem um grande hub de pessoas que estão sempre à procura de novas oportunidades de emprego e projetos e foi isso que me possibilitou trabalhar durante uns anos a partir de Amesterdão.
Como é que entraste na área dos conteúdos digitais?
No segundo ano de mestrado, em 2011, comecei a estagiar numa organização chamada RNW Media (uma espécie de BBC Internacional holandesa), em especial num projeto pioneiro de comunicação e jornalismo digital sobre direitos sexuais, chamado Love Matters. Com o fim do mestrado, fiquei a trabalhar lá até 2017. Vim morar para Lisboa em 2016, mas ainda trabalhei um ano à distância.
Daí até ao "Home After War" foi um pulo...
Uma amiga desafiou-me a fazer uma produção em realidade virtual 360 para o Love Matters Índia sobre desigualdade de género. Estivemos em Mumbai durante uma semana com uma equipa de criativos, developers, cenógrafos, jornalistas, produtores só a testar novas soluções porque ninguém sabia nada. A experiência de cinco minutos foi bem aceite e teve uma distribuição pelos metros de Deli e Mumbai. Foi a primeira experiência com este formato sobre desigualdade de género e sobre jornalismo e ONGs na Índia. Depois, participei no projeto “Home After War”, gravado no Iraque, que fez parte da selecção oficial de vários festivais de cinema, como o de Cannes e de Veneza, e ganhou um prémio na categoria de artes imersivas no Festival South by South West. Aí não estive no Iraque, até porque a maior parte do budget ia para a segurança da equipa de 2 pessoas que estava lá. Fiz o design da experiência.
Entretanto, fui ficando por Lisboa porque o trabalho foi aparecendo naturalmente com networking: organizei com a Carol Delmazo as primeiras XR Immersive Media Meetups em Portugal, trabalho com investigadores (e contigo risos) da NOVA FCSH num projeto de realidade virtual para o Museu da Marioneta, colaborei num projeto de realidade aumentada associada ao jornalismo local com o Diogo Queiroz de Andrade – o RAlgés... Agora abracei o projeto Manicómio, que vai lançar em breve uma revista só feita com trabalhos de artistas com doenças mentais.
Faz a diferença para um jornalista passar por outras áreas da comunicação, mesmo que tradicionalmente incompatíveis com a profissão?
Definitivamente, porque consigo criar conceitos e desenvolver projetos de raiz. Não tenho perfil de jornalista de secretária, gosto de um processo colaborativo e horizontal, e toda essa minha experiência me permitiu criar e crescer.
|